segunda-feira, 25 de março de 2013

Ciência e superstição



À espera de um milagre



            De repente, o vendaval, e a velha e robusta jaqueira tombou espetacularmente.
            No dia seguinte, o dono do sítio deu início ao árduo trabalho de remover toda a galhada que não só impedia a livre passagem, como também abafava as outras plantas.
            O corte inicial aconteceu cerca de dois metros a partir da base do caule. Devido ao porte do tronco, a operação exigiu muito esforço e tempo. A remoção dos galhos continuou o dia inteiro com o aproveitamento da madeira para outros fins ali mesmo no sítio. 
            Para levar a termo essa tarefa, haveria serviço para pelo menos três dias. Triste fim para uma jaqueira que dera tantos frutos saborosos.
           Mas o que fazer? Quanto a ela, nada. Quisessem jaca, fizesse o plantio de outra e esperassem anos e anos para vê-la dar frutos.
          No dia seguinte, algo inesperado e inexplicado aconteceu: o tronco estava ereto, assentado no mesmo lugar. Algumas teorias foram aventadas para explicar o acontecimento. Uma delas dizia tratar-se de forças sobrenaturais. Diziam que os antigos donos do sítio, já falecidos, gostavam muito de jaca e da jaqueira e, por isso ergueram o caule, durante a noite.
          Mas a explicação mais razoável veio por meio de um técnico agrícola. Segundo ele, ao aliviarem o tronco do peso de sua galhada, as raízes grossas flexionadas e tensionadas foram as responsáveis por colocarem o tronco na posição onde sempre estivera.
          Apesar da explicação lógica para o fenômeno, muitos preferiram continuar acreditando na possibilidade de um milagre. Por causa disso, sobreveio uma ameaça em potencial à vida da jaqueira: na calada da noite, uma turma de homens da terceira idade, portando facões, vem dilapidando tronco, retirando-lhe a casca, à espera que outro milagre aconteça.
           Não se sabe se o tronco sobreviverá. Por garantia, o melhor a fazer seria postar vigilância, durante as vinte e quatro horas, porque, o que a natureza não conseguiu fazer, os alegres e libidinosos velhinhos da cidade certamente conseguirão.   

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quanta contradição, hein?!



Paradoxo


Certa ocasião, em meu local de trabalho, eu presenciei dois colegas falando das mazelas que acometem o nosso País: descaso com educação e saúde e, principalmente, a corrupção, envolvendo tanto o setor privado com o público, ou dos unidos em ação conjunta, numa ação nefasta contra toda a população e o contribuinte.
            O primeiro deles – um PM reformado, saudosista do antigo regime militar, o que até possa justificar sua admiração e, não sei por cargas d’água, também um admirador de Fidel Castro – declarou, textualmente, que o Brasil precisava de homem como o presidente cubano, para por ordem nesta nossa Terra brasilisis.
Eu ouvia os dois conversando, e fiquei na minha, como se costuma dizer na gíria, sem me intrometer, pois, afinal de contas, não me convidaram para o colóquio nem pediram minha opinião. Assim, ainda que o assunto da prosa fosse do meu interesse, continuei como estava, em silêncio, folheando as páginas de um livro, mas acompanhamento as suas digressões.
            Aproveitando a deixa, o segundo – que eu o sabia sindicalista e militante do PT (Partido dos Trabalhadores) – não fez nenhuma obtemperação contrária à alusão aos militares e, de maneira enfática, ratificou as palavras do colega quanto ao papel moralizador que Fidel exerceria, caso assumisse os desígnios de nossa Pátria. Este falou dos benefícios à população, no tocante à saúde e educação, depois que o líder revolucionário cubano depôs o regime ditatorial e corrupto de Fulgêncio Batista. É verdade, sim, não se pode negar esses progressos, entretanto, uma das coisas mais caras ao ser humano – a liberdade de expressão, de contraditar, reivindicar melhorias, etc. – Fidel, nesse aspecto, seguiu os mesmo passos do governo pró-americano anterior. De que adianta ter saúde, educação, moradia e comida, se você, tudo o que pode dizer é amém para o que está certo ou errado.
            Após tantos encômios ao regime castrista, eu, não me contendo, pedi permissão aos dois para externar meu pensamento a respeito do assunto em voga. Comecei pelo meu colega PM – uma ilha, termos de paradoxo – dizendo-lhe que o regime, assim como o regime castrista, cometera a mesma aberração com a decretação dos AI – atos institucionais, abolindo o direito de o cidadão expressar livremente sua opinião. Lembrei-lhe ainda que, durante o regime de exceção dos militares, a corrupção grassava em todos setores da vida nacional, com o agravante de que ninguém podia se manifestar contra aquilo que era óbvio. Quando a podridão era por demais visível, o governo cuidava ou em dizer tratar-se mentiras dos “inimigos do regime” (os movimentos políticos de esquerda de todas as cores e correntes de pensamento), ou tomar providências, tipo aquela famosa “duela a quien duela”. Quem não se lembra do caso Ana Lídia – a garotinha morta pelo filho do Ministro das Relações Exteriores à época? Todas as provas conduziam ao assassino, mas, para preservar a imagem de uma das figuras do regime, o caso foi arquivado, como soía acontecer, “por falta de provas”. Depois, virando-me para o militante petistas, disse-me que não conseguia compreender do pensamento do pessoal do PT, defensores “ferrenhos” do regime democrático de direito (lembrar que não só petistas, como também os comunistas brasileiros, em suas manifestações contra o governo, sempre invocam a democracia, a liberdade de opinião, etc.) e terem como ídolo alguém como Fidel Castro, que chagara ao poder pela força das armas, e, passados quarenta e poucos, na época, nunca o regime promovera eleições livres, de modo a promover a renovação dos dirigentes cubanos. Como pode alguém ser democrata, estando a tanto no poder? Também disse-lhe que ele se enganava se pensava que em Cuba não havia corrupção. Havia, sim, e, assim como no Brasil, durante os governos militares, tudo era varrido para debaixo do tapete. Em Cuba, na China, na ex-União Soviética e nos demais satélites do regime comunista, uma minoria formada pelos dirigentes do Partidão vivia, nababescamente, enquanto a população passava fome.
            Tudo isso eu falei, sem momento algum ser contraditado. Achei que, possivelmente, por falta de leitura ou pela cegueira que acomete os indivíduos fanatizados. Não se pode acreditar em tudo que se ou lê, mas pode-se fazer as duas coisas, sempre com espírito crítico.
Disse a ambos que não existe regime perfeito, porque nada é perfeito ou ideal, que reconhecia os crimes do capitalismo, em especial do capitalismo selvagem, não podia deixar de reconhecer também seu positivo. Também, como disse João Paulo II, o regime comunista não era, in totum, uma excrescência das sociedades humanas. Contudo, especificamente em relação a Cuba, perguntei o que achariam eles de receberem uma casa, com todo o conforto de que pudessem imaginar, se, em trocar disso, eles tivessem que calar, vendo, ao redor deles, pessoas viverem em condições totalmente adversas às suas. O passarinho, engaiolado, recebe de seu dono e seu algoz pão e água, mas, tivesse ele que escolher, certamente preferiria viver longe dali.
Pois é assim que é vida de quem vivem em Cuba, China e Coreia do Norte. Neste último, quem viu a população chorando a morte de seu líder, saiba que aquele clamor fazia de toda uma encenação orquestrada pelos dirigentes. E aí de quem não chorasse! Lembro-me de que uma jornalista brasileira que, durante o voo para Pyongyang, fora alertada para o fato de ter dobrado o jornal disponibilizado aos passageiros, no qual havia estampada, na primeira página, uma foto do presidente Kim Jong-il. Isso poderia lhe valer alguns anos de prisão. Na última Copa do Mundo, quando os jogadores da seleção de seu país receberam sucessivas goleadas, eles foram severamente punidos e, apenas um jogo perdido por 1x0, semanas depois, pode ser visto pela população como um ato heroico do regime.
Assim, meus amigos, querem viver em Cuba? Se mandem para lá e, quando sentirem na pele o que é viver num regime de exceção, não venham com aquela velha desculpa sobre o embargo econômico. Regime de exceção é de exceção, de tolhimento de liberdades individuais e coletivas, seja ele de direita ou de esquerda.

sábado, 17 de novembro de 2012

Momento poético

LIBERDADE



O pássaro, de sua gaiola,
Assiste a um passarinho
Ao chão, catar, alegremente,
Pedrinhas, como alimento.
(Quanta comida – pensa consigo –
A preço de ouro comprada
Aqui dentro, comigo!)
Mas ele tudo daria
Para escolher aquela iguaria
E comê-la livremente.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Poética


Poética em três tempos

Meu tempo é quando
Meu presente é hoje
Meu passado é ontem
Meu futuro é amanhã.

O presente, tenho-o hoje
O passado, já o vivi intensamente
O futuro... esse só a Deus pertence!